Diante dos mistérios da Lua
por Gláucio Araújo
Não temo a escuridão no caminho! Nem mesmo as sombras da noite têm o poder de deter os meus passos. Intuição não é sinal, muito menos uma visão interna, como um “insight”. Intuição é Vontade Pura! E a ninguém é dado o direito de negar a Vontade quando ela se manifesta pura e límpida.
O mistério da Lua está no modo incerto como ela nos mostra as coisas. Sob os raios do luar nada é certo… Nada é preciso… Tudo pode ser diferente do que imaginamos. Um montículo pode ser uma inofensiva pedra ou um animal à espreita; o caminho pode ser sólido e firme, ou um pântano lodoso… Nada é certo… Não há certezas sob os raios da Lua.
Bem e mal misturam-se nas sombras; certo e errado não possuem mais os mesmos limites que inventamos de tempos em tempos. Verdade e ilusão facilmente se confundem ou, por outras vias, revelam-se como realmente são: nada mais que ilusões.
Para mim, à minha frente, não há bem nem mal, certo ou errado, verdade ou ilusão… Apenas o caminho escuro e as sombras incertas. Sob os raios do luar percebo, por fim, que nem tudo pode ser controlado ou explicado.
Ceder à intuição, que é Vontade Pura e sem propósitos, é o meu único DEVER ao qual não tenho o direito de negar. Não me são dadas explicações, nem mesmo sei aonde Ela irá levar-me.
A Lua é a Mãe, o Segundo Logos, a Deusa, a Lei, o Santo Espírito, contra quem, em hipótese alguma, se pode blasfemar ou negar a Sua Vontade!
O perdão é da natureza do Pai e do Filho, mas a Mãe, a Lei, é incapaz de perdoar! Por isso se diz em segredo: “é a Mãe que separa o Pai do Filho” e, por isso mesmo, perde-se a humanidade nas trevas e na ignorância.
A humanidade cega assemelha-se a uma lagosta estática ao centro do lago profundo da sua própria inconsciência. Com suas garras, ameaça (inutilmente) a Lua, desafia a Lei. Enquanto aprofunda-se na cegueira, coloca para fora o seu esqueleto a fim de negar a si mesma qualquer possibilidade de mudança em suas carnes moles.
Sob os raios do luar, não há o que escolher: seguir adiante, sem jamais retroceder, é a minha única opção. À minha frente, está a inconsciência e a humanidade cega… A MINHA humanidade, com todas as suas duras defesas, regras, conceitos, preconceitos, enfim, tudo aquilo que invento para garantir-me alguma inlusão de controle, segurança e previsibilidade.
O lago em si, não é uma ameaça… Sob a luz da Lua, não há como saber se são águas ou solo firme. Mas se a Vontade Pura diz: “segue!”, eu não tenho o direito de negar.
Nem mesmo os uivos distantes que ouço, causam-me mais arrepios. Os lobos não ameaçam a Lua, eles a veneram e protegem. São suas colunas e entoam louvores aos seus raios. Eles não irão ferir quem, como eles, aceitam e amam a luz da Lua, mas eles irão aproximar-se de mim, irão cheirar meu corpo inteiro em busca de qualquer sinal de desejo de retroceder e contrariar a Vontade pura que me move.
Cedendo à Lei, eles não apenas permitirão que eu continue a minha jornada, como também seguirão juntos ao meu lado, acolhendo-me em seu centro como se fossemos membros da mesma matilha. Caminharei, portanto, entre o bem e o mal, no fio da navalha, e a minha única segurança reside apenas na minha capacidade de entregar-me, sem medo e completamente, à Vontade Pura que me chama.
Ninguém está acima do bem e do mal!
É ao lado de ambos que se caminha na escuridão… Basta um breve resquício de temor, qualquer tipo de julgamento, um fulgaz pensamento duvidoso contra a Lei, para que, de membro da matilha, eu seja transformado em presa para, ali mesmo, ser atacado e devorado até os ossos tanto pelo bem quanto pelo mal.
A vitória, e a minha única opção, está na renúncia, na entrega, no mergulho incondicional em toda Vontade Pura que me chama sob a luz do luar.
Amor é Lei… Amor sob Vontade!
Fonte:
imagem:
Universal Tarot of Marseille- Lo Scarabeo Editions - Based on the Swiss Claude Burdel's Tarot deck
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