Encontrei este texto no site Clube do Tarô, sobre os Arcanos da Nova Era de Henrique José de Souza, escrito por Alexandre Domingues.
O texto fala de forma interessante sobre Gaia ( Terra ) como um organismo vivo, de nosso papel, enquanto seus habitantes, para o cumprimento do trabalho que está designado à ela em fazer sua própria evolução planetária e cósmica. Na verdade é como se a Terra fosse um ser humano e tivesse também suas provações a passar rumo à sua evolução, (talvez seja este caos que estamos vivenciando).
O texto está na íntegra e embora seja longo, vale a pena ler.
A carta que ilustra esta postagem bem como sua descrição é do Arcano XXI - A Libertação.
Nos "tarôs normais" o Arcano XXI é "O Mundo", mas pela descrição trata-se aqui do Arcano 0 "O Louco".
texto e imagem: A Libertação, Arcano da Era de Aquário, em: Carta Celeste
Esta personagem em nada parece com a do Tarô comum, pois, invés de levar um saco no ombro, vinha montada num cavalo branco. E, atirava moedas para o ar, que voltavam novamente para as suas mãos... Resta meditar sobre a alegoria, que é das mais sublimes...
"Os Arcanos da Era de Aqúario foram pintados sob orientação de Henrique José de Souza (1883-1963), fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose. As peças de autoria de Paulo Machado Albernaz, realizadas em pequenas telas (1950), encontram-se no primeiro andar do Templo de São Lourenço (MG). Foram posteriormente impressas em apostilas de estudo do quarto grau de iniciação da Sociedade Brasileira de Eubiose". (Clube do Tarô).
Os Arcanos da Era de Aquário de Henrique José de Souza
Resenha de Alexandre Domingues
Os arcanos da Era de Aquário, como foram chamados por Henrique José de Souza, estão inseridos em um contexto maior do movimento cultural e espiritualista que ele liderou a partir de 1921 com a finalidade de preparar caminho para o que considera um novo momento da história humana, cuja marca característica dizia estar relacionada a uma mudança no “foco” da espiritualidade planetária, que vibrava no oriente e teria então se voltado para o ocidente.
A chave para se compreender o ponto de vista de Henrique a natureza dos arcanos que ele apresenta é a compreensão de que no centro de suas concepções havia a premissa de ser a própria Terra, em si mesma, um ser vivo, um organismo auto-consciente.
Terra, planeta auto-consciente
Esta ideia – seja vista como metáfora ou como realidade literal – de fato já tem longa data. Apareceu em vários momentos da filosofia grega; entre os alquimistas se concretizava
na noção de “Alma Mundi”; foi defendida por Leonardo da Vinci, e foi um dos motivos de Giordano Bruno ser queimado na fogueira.
Modernamente, já nos anos 70, foi retomada pela chamada “Hipótese Gaia” de James Lovelock e Lynn Margulis.
Para ilustrar, segue um trecho de Lovelock, publicado na Folha de São Paulo em 21 de janeiro de 2006, em que a Hipótese Gaia muito se aproxima do pensamento de Henrique José de Souza. Fala sobre o que considera inevitáveis hecatombes ecológicas, em que “Gaia” (como ele chama a Terra-viva) perderá muito mais do que ecossistemas:
“Talvez o mais triste seja que Gaia perderá tanto quanto ou mais do que nós. Não só a vida selvagem e ecossistemas inteiros serão extintos, mas na civilização humana o planeta tem um recurso precioso. Não somos meramente uma doença; somos, por meio da nossa inteligência e comunicação, o sistema nervoso do planeta. Através de nós, Gaia se viu do espaço, e começa a descobrir seu lugar no Universo.”
Estas ideias e noções já aparecem claramente nos escritos de Henrique José de Souza e foram esmiuçadas em suas “cartas-revelação” que quase diariamente dirigia aos participantes do seu movimento.
Comparando a Consciência humana à Consciência-Terra
Usando como paralelo a consciência humana, poderíamos traçar as seguintes características básicas que, dentro da visão de Henrique, teria o próprio planeta Terra em si:
A consciência-Terra teria uma natureza muito diferente da nossa, o que geraria a grande dificuldade em nós a reconhecermos. Apesar disto, com esta consciência, a Terra teria plenas possibilidades de tomar suas próprias decisões, mesmo que de forma muito diferente daquilo que nós consideraríamos “decidir”.
*O conjunto de todos os seres vivos da Terra são o seu ponto de apoio e manifestação, e a humanidade em especial teria capacidade de no futuro ser o suporte direto e imediato da consciência planetária, da mesma forma como nossas mãos e cérebro são capazes de dar suporte imediato ao que queremos fazer;
*O planeta como um todo possuiria uma estrutura orgânica portadora dos mesmos corpos “sutis” que a teosofia atribui ao ser humano, ou seja, teria a Terra uma alma. Isto quer dizer que além do corpo físico (tri-dimensional) haveria também um corpo etérico, astral e mental planetários. Isto sem contar com três corpos de natureza espiritual ou divina: Manas superior (ou abstrato), Budhi e Atmã;
*De maneira similar ao que ocorre no homem, o “foco” da consciência da Terra estaria localizado em seu corpo mental, materialmente existente em quinta dimensão. Neste corpo mental planetário afirma Henrique haver uma estrutura central de sete cidades sagradas orbitando ao redor de uma oitava principal. Ou seja, o que já os monges tibetanos chamam de Agartha e sua capital Shamballah, mas presentes com outros nomes em diversas culturas;
*Se por um lado percebemos o foco de nossa consciência “dentro” de nossa cabeça, apesar do aura humano estender-se além do corpo físico, e também percebemos que este foco parece projetar-se em um centro imaginário entre os olhos, a Terra, por outro lado, de forma semelhante, teria sua consciência focada no centro do planeta, a cidade de Shamballah, projetando esta consciência em terceira dimensão em um específico local onde haveria a “capital espiritual do mundo”, ou seja, a fonte irradiadora de toda a espiritualidade para a superfície tri-dimensional da Terra;
*Além deste foco “geográfico”, afirma Henrique que a consciência da Terra possui também um foco pessoal e humano. Este seria o chamado Rei Melki-Tsedek, o “Rei de Salém e Sacerdote do Altíssimo” das tradições judaico-cabalísticas. Um rei que governa o planeta mas normalmente de forma indutiva e indireta, através da Grande Fraternidade Branca, respeitando o “livre arbítrio” da humanidade da Face da Terra, e consequente direito de auto-determinação dos povos da superfície;
*O Rei Melki-Tsedek teria sempre um representante seu na Terra, na maioria das vezes funcionando de forma oculta, completamente desconhecido da humanidade. Somente em alguns momentos bastante específicos ele se manifestaria em uma missão ostensiva – e sacrificial até – no que se conhece por “avatara”.
Do Oriente para o Ocidente, um novo ciclo de vida no planeta
Dentro destes pressupostos, Henrique relata que, como em qualquer ser vivo, a Terra possui vários ciclos de vida e que estamos desde o fim do século XIX passando por uma importante e delicada transição entre dois grandes ciclos, já prevista por diversas culturas e tradições. O novo ciclo que estaria em seu início traz a marca de ser o momento em que o homem atingiria um estágio de maturidade onde encontra sua perfeita integração com a natureza e o universo. A este estado, Henrique chama de “eubiose”, que significa “viver perfeito” com um sentido muito próximo a uma verdadeira simbiose entre Universo (ordem cósmica), Terra (biosfera auto-consciente) e ser humano.
Mas isto somente ocorre depois de muitas “idas e vindas” evolutivas. Quedas e redenções de toda uma luta existencial para o homem encontrar-se a si mesmo e alcançar sua própria identidade e autenticidade enquanto espécie componente do ser vivo planetário.
O epicentro crítico desta transição cíclica teria ocorrido em 1921, quando o foco da consciência da Terra, Shamballah, que estava projetada no Tibet desde o início da chamada “Quinta-Raça mãe”, teria se deslocado para o Brasil, em uma montanha que existe na cidade de São Lourenço, em Minas Gerais.
Para Henrique, trata-se de um metabolismo natural do planeta que, semelhante a uma ampulheta, muda seu eixo de tempos em tempos, iniciando então um ciclo renovado de experiências em busca de novas dimensões de consciência.
É interessante notar que o Tibet foi invadido pelo comunismo ateu da China em 1950, gerando graves restrições à manutenção de suas tradições, dispersando pelo mundo vários dos mais importantes lamas, sendo que muitos vieram para o ocidente, trazendo para cá seus conceitos.
Esta transição teria sido acelerada por diversos motivos, determinando uma transformação sem precedentes na humanidade, tanto em termos científicos e tecnológicos, como políticos, sociais, artísticos, religiosos, enfim, em vários campos da atividade humana.
Em resumo, na forma de ver de Henrique José de Souza, a transformação em si é da Terra, de sua própria “alma”, enquanto as profundas mudanças que observamos no modo de ser da humanidade estariam entre suas principais consequências.
E é nesta “alma” da Terra que ele baseia a essência dos arcanos maiores e menores.
Os novos arcanos nascem da Alma Planetária: A Árvore da Vida
Ensina Henrique que a consciência da Terra, focada de forma integral e sintética em Melki-Tsedek, ramifica-se e particulariza-se organicamente, como em uma árvore, com raízes, tronco, galhos, folhas, flores, frutos e sementes, abrangendo desta maneira todos os seres vivos em um metabolismo simbolizado pela imagem da “Árvore da Vida”.
O tronco central seria Shamballah – oitava cidade da Agartha – base do que Henrique chama de “tubo cósmico”, equivalente planetário da coluna dorsal humana. Deste tronco brotam as 21 ramificações representadas por três templos de cada uma das sete cidades agarthinas.
Cada arcano dos 22 maiores representaria uma destas situações. O arcano 22 (A vitória), estaria relacionado com o tronco em si, Shamballah e o Rei Melki-Tsedek. Enquanto os demais 21 arcanos representariam a “alma” de cada um destes outros 21 templos agarthinos. Lembrando que o conjunto de tudo isto forma, na visão de Henrique, a estrutura central da consciência da Terra-viva em quinta dimensão, o eixo espiritual de sua alma.
Desta “Alma Mundi”, por sua vez, nascem todas as nossas almas individuais, além dos fatos que fazem a nossa vida e a consciência que existe na natureza e regula o seu equilíbrio.
Chakra Vibuthi: os 22 arcanos em nós
Henrique afirma que além dos sete chakras principais – bastante conhecidos nos meios esotéricos – temos um oitavo chakra, pouco abaixo do chakra cardíaco, que seria responsável direto pelo equilíbrio dos demais, chamado de Vibuti.
Neste chakra, com suas oito pétalas estaria reproduzido no homem o mesmo metabolismo que ocorre na Terra. Ou seja, sete pétalas sob a regência de três arcanos cada, e a oitava vibrando o arcano 22, gerando assim a possibilidade da relação direta da consciência humana com a das cidades agarthinas. Através da descoberta em si mesmo destas potencialidades, teria o homem condições de encontrar em sua própria alma a chave para o contato face-a-face com a consciência da Terra, ou seja, Deus.
Este seria o principal fundamento não só para toda a potencialidade transformadora e auto-conscientizadora que os arcanos reconhecidamente possuem, mas também para a chamada “Religião de Melki-Tsedek”, a religião sem sacerdotes. Na verdade, uma religiosidade natural que estaria presente em todo ser humano, caracterizada pela ausência de instituições ou ritos específicos e, exatamente por isso, harmônica com todas as verdadeiras religiões humanas, bem como presente em cada uma delas de uma forma ou de outra.
Fundamentos do Tarot como arte divinatória
O aspecto divinatório do Tarot também encontraria aí seu fundamento, pois todos os fatos que ocorrem dentro da vida planetária, particularmente em sua face humana, não seriam nada além de ocorrências internas de um grande organismo.
Da mesma forma que ocorre no homem, a Terra também possuiria ações conscientemente movidas por sua vontade direta mas convivendo com uma parcela de ocorrências “inconscientes”, ou seja, naturais, instintivas ou mesmo acidentais. Tudo, entretanto, sempre movido pelas mesmas leis básicas representadas nos arcanos, fundamento de todo o metabolismo de sua vida.
Desse modo, qualquer fato ocorrido na Terra teria sua regência revelada pelos arcanos do Tarot, cabendo então às tradicionais técnicas oraculares a tarefa de descobrir quais arcanos ou combinações de arcanos, estariam ligados a quais ocorrências.
Por que JHS e não HJS?
Um observador mais atento poderia perguntar: Por que nas legendas dos arcanos existem menções a JHS se as iniciais de Henrique são “H.J.S.”?. Teria isto alguma importância?
Teria sim. Como já foi dito acima, dentro dos conceitos de Henrique José de Souza, a consciência da Terra-Viva tem como ponto de apoio todos os seres vivos do planeta. Assim, em determinadas circunstâncias, parcelas desta consciência – ou mesmo ela integralmente – poderiam se manifestar através de seres humanos. E na verdade a intenção da consciência planetária seria justamente a de poder estar plenamente consciente através da humanidade como um todo, que então se tornaria suas mãos, olhos e ouvidos.
JHS seria a parcela da consciência planetária voltada a conduzir a humanidade para esta meta. Por isso é uma consciência chamada por Henrique de o “supremo instrutor do mundo”. A sua essência estaria diretamente ligada ao quinto princípio universal – a Inteligência – mas dirigida pelo sexto princípio, o Amor.
O estado em que entramos em eubiose com o Universo nasceria justamente no momento em que o Amor passasse a conduzir a Inteligência, colocando em equilíbrio coração e mente. Quando isto ocorre de forma adequada a alma humana seria capaz de realizar todas as suas mais profundas vocações, incluindo a de ser suporte de parcelas da consciência da Terra, ou mesmo dela em si, integralmente.
Quando nas legendas dos arcanos há menção à JHS, estaríamos frente a um momento em que o homem Henrique tinha sua mente ampliada e integrada à consciência do mestre JHS, trazendo ensinamentos à humanidade que seriam capazes de possibilitar a qualquer pessoa a mesma experiência.
Talvez por isso ao longo dos ensinamentos de JHS – que assina quase todas as Cartas-Revelação – fica clara a preocupação de que não houvesse nem uma aceitação nem uma negação cega ou apressada aos seus conteúdos, mas sim que fossem vistas como fontes de instigação à reflexão e à meditação, um constante apelo à inteligência e à perspicácia do leitor. Neste contexto, Henrique viu os 22 arcanos
Em resumo, na cosmovisão de Henrique José de Souza os arcanos não são simples figurações psicológicas, mas representações de entes e leis vivas, em si mesmas conscientes e diretamente ligadas à consciência central do próprio planeta, que também é em si mesmo um ser vivo. Esta visão dá aos arcanos uma característica muito mais dinâmica do que a tradicional, e permite compreender porque seria de se esperar que as profundas alterações por que passa a alma da Terra teriam como consequência não menos profundas alterações na própria dinâmica dos arcanos e em suas representações.
De fato, em um dos momentos em que a mente de Henrique ampliava-se à de JHS, as consciências vivas dos 22 arcanos maiores teriam se mostrado a ele através de novas representações, desfilando como que em um cortejo frente à sua clarividência.
As descrições e imagens foram então registradas, e ao conjunto foi dado o nome de Arcanos da Era de Aquário, pois ligado aos fundamentos que a alma da Terra terá neste novo ciclo de sua vida.
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